quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

EXPEDIÇÃO ARGENTINA & CHILE

 DIA 1 - BH (26/12/2010).  Acordo por volta das 7 da manhã e depois de tudo embarcadado vou até a casa do Rogério. Às  9, após rápido café em uma padaria, pegamos a estrada. O objetivo era chegarmos ao Paraná ! Nem eu, nem meu parceiro havíamos encarado tantas horas de estrada. Daríamos conta do recado ? Foram 13 horas ! Estávamos em Curitiba, foram 1004 Km em que nos revezamos ao volante. Hotel confortável, ótimo banho, sandubas gigantes e uma merecida noite de sono.

DIA 2 - Curitiba a Uruguaiana. Depois da chuva em todo estado de São Paulo e do frio em Curitiba, o trajeto até Uruguaiana foi verão extremo ! O ar condicionado nos salvou. Foram 1300Km em mais de 14 horas de estrada. Nosso recorde até aqui. Almoço quase na divisa entre Santa Catarina e RGS. Um PF com grande variedade de carnes, arroz, macarrão, polenta e salada. Comemos pouco por motivos óbvios. Eu peguei o volante e Rogério adormeceu boa parte daquela tarde escaldante. Em Uruguaiana, um hotel razoável e a expectativa pela travessia da fronteira com a Argentina no dia seguinte.

DIA 3 - Fronteira da Argentina. Atravessamos a ponte que liga Uruguaiana (BR) a Passo De Los Libres (AR). A aduana foi muito tranquila.Uma loira "mui hermosa" funcionária da aduana solicita que eu abra a porta traseira da HARPIA (Land Rover). Apenas perguntas sobre os volumes, não foi necessário abrir as malas. Ela mostrou entusiamo quando disse do Parapente e minha intenção em voar em seu país. Com os vistos nas mãos o destino é Buenos Aires. Pegamos a ruta 14, 80% em obras. Imensas retas, paisagem de pampas e uma barreira policial. Início de um breve martírio. O oficial sinaliza para eu parar. Meu jipe era o último veículos de uma fila. O asfalto irregular fez o carro balançar e ele entendeu que se tratava de descontrole em função da "velocidade elevada" ! Pede os documentos, cara de poucos amigos, solicita que eu estacione logo à frente. Vai até o interior da delegacia e o vejo conversando com outro oficial. Faz sinal para que eu vá até lá. Sou comunicado de uma MULTA por EXCESSO de VELOCIDADE. Não questionei. Cento e cinquenta pesos. Eu disse que não tinha dinheiro em espécie. Acertamos por pouco mais de 100 pesos. A multa foi aplicada com a seguinte descrição : " NO USA CINTURÃO DE SEGURIDAD". Assinei e continuei a viagem, cinquenta reais mais pobre. Minto, R$25,00 porque o Rogério assumiu metade do prejuízo ! Rs. Confesso que a experiência foi válida. Sou do tipo "ver para crer"  e já haviam me alertado para a sacanagem com turistas brasileiros  por parte dos policiais rodoviários. Me custou pouco assistir toda aquela encenação ridícula para obterem alguns trocados, "propina". De volta à estrada o calor volta a castigar. Mais 700Km até Buenos Aires. Na auto-pista, Rogério com o guia na mão escolhe aleatoriamente um hotel. NOVEL HOTEL, avenida de Mayo 915. De posse do endereço o GPS resolveu dançar um tango e depois de indicar várias vezes caminhos que nos faziam sempre voltar ao ponto de origem, resolvemos parar em um posto com loja de conveniências para almoçar e pedir ajuda. Avistei 4 policiais  e abordei um deles dizendo que era brasileiro e precisava de orientação para chegar ao centro de Buenos Aires. Ele foi extremamente solícito e até desenhou um mapa no meu guia  (O viajante Argentina.). Naquele emaranhado de elevados e pistas, por um momento achamos que havíamos errado uma entrada até que avistei o aeroporto e o estádio do Boca Juniors (La Bombonera). Mais alguns minutos e a HARPIA desfilava pela 9 de Julho até o Obelisco. Enquanto Rogério aguardava dentro da Land Rover, eu saí para encontrar um hotel com disponibilidade para o reveillon. Ora não havia vaga, ora era caro demais, ora não tinha ar condicionado, até que cheguei no NOVEL, aquele que escolhemos só para orientar o GPS e curiosamente atendia a todos os requisitos : excelente localização, ótimo preço, disponível para o período que queríamos e confortável ! Para ficar ainda melhor, próximo dele encontramos um estacionamento a 50 pesos a diária. Uma barbada. Tudo dando certo ! Quando anoiteceu, percebi pelo tom da iluminação, ao final da avenida de Mayo, a cor rosada do Palácio do Governo.


                                                     
DIA 4 - Aires buenos ! -Levantei disposto a fotografar a rotina do cidadão portenho. Dia nublado, fui conhecer a Plaza de Mayo . Tanto a praça quanto a Casa Rosada são pontos turísticos emblemáticos da capital Argentina.

Não é privilégio das capitais brasileiras ter aposentados com o olhar distante, aquecendo-se ao sol.   

                                                    
A grande descoberta do dia foi saber que a edição 2011 do Rally Dakar terá sua largada no Obelisco em 1º de janeiro. No shopping Galeria Pacífico  havia um quiosque com produtos do evento. Pirei em um capacete temático do DAKAR e entrei em negociação. O vendedor pediu R$1.000,00. Ofereci R$400,00. O cara arregou. Voltarei amanhã !

DIA 5 - Correr ! Resolvi marcar território dando 5 voltas entorno da praça de Mayo e Casa Rosada. Calor pra "carajo" !  8 da manhã !  De volta ao hotel encho a banheira com água fria e experimento uma imersão completa. Aproveito para lavar meias, short, cueca, camisa e até o tênis. À tarde voltei ao shopping para renegociar o capacete, comprar a camisa e o boné do Rally Dakar. O vendedor permanece irredutível, afinal faltam 48 horas para a largada. Depois que passar a "febre" do evento estarei alí, ao lado do quiosque com uma nova proposta. Se fosse em BH, o mesmo capacete não custaria mais que R$200,00. Dada as circunstâncias pagarei uns R$300,00. Rs. Convidei o Rogério para visitarmos o que os portenhos consideram o "Central Park" de Buenos Aires. Fui sozinho e pela primeira vez usei o metrô. Na Plaza Itália  descubro que "RURAL", onde estava montada toda a estrutura do Rally Dakar, ficava alí ao lado !!!! Enlouqueci com a possibilidade de ver todos os veículos de perto. O zoológico também está bem próximo, mas pedi desculpas aos bichos e dei prioridade a outras "feras" ! Rs 

DIA 6 - LA BOCA. Embarcamos em um ônibus double-deck e partimos para um city-tour. O bairro La Boca é muito interessante. Ruas repletas de bares que exalam boemia. Casas de artesanato refinado, arquitetura peculiar com construções coloridas e ótimas para fotos. Uma loiraça toma pelos braços o Rogério e ensaia alguns passos de tango. Pede para que eu fotografe e tal e em seguida anuncia : hay que pagar una propina senhor ! Pagamos alguns pesos e demos muitas risadas.

"Hay que pagar una propina senhor !"
 Estamos no dia 31 de janeiro e tiramos a tarde para descansar. Em seguida planejamos a rota para seguirmos até Bariloche, nosso próximo destino. Chega a noite e para nossa surpresa e decepção os portenhos festejam a passagem do ano dentro de suas casas ou reservam mesas nos poucos restaurantes que permanecem abertos. Ruas desertas e até a Plaza de Mayo estava mais para um cemitério. Dois brasileiros mortos de fome e não havia sequer um bar aberto para nos atender.  Enfim, encontramos uma loja de conveniências e ceiamos SANDUICHE DE PÃO INTEGRAL COM MUSSARELA E PRESUNTO. TOMATES, SPRITE e de sobremesa SNICKERS ! Considerando que estávamos em Buenos Aires, SENSACIONAL ! Rs. Resolvemos ir até o Obelisco e lá sim havia uma pequena aglomeração que aumentou por volta da meia noite. 2011 chegou em uma espécie de Babel, pois as pessoas eram, em sua maioria, estrangeiros de várias nacionalidades. Os portenhos... bem, sumiram !

DIA 7 - RUTA 205 - O dia foi marcado por 4 eventos

1. Confusão no estacionamento \ O combinado dias atrás era pagarmos 50 pesos a diária. O funcionário nos disse que era 70 pesos por se tratar de um jipe. DEpois de muito argumentar, enfiei a mão no bolso e saquei 200 pesos ! Eu disse que era tudo o que tínhamos. O cara sorriu e nos liberou. Moral da estória : era para pagar 200 pesos, ele pediu 280 e ficou por 200 mesmo. Simples assim.

2.  Confusão no posto de pedágio (Peajo). Pedimos informação a uma "chica". Ela nos explicou como pegar a RUTA 205. Alguns metros a frente surgem duas placas,  "Ruta 205 sin peajo" e "Ruta 205 con peajo". Acompanhem meu raciocínio : se acabamos de passar pelo posto e pagamos pelo pedágio, nada mais justo que seguir o caminho indicado pela placa "sin peajo" ! Mais adiante, em um posto de gasolina, o frentista é categórico ao afirmar que por alí a distância era muito maior. Orientou que voltássemos ao pedágio. Voltei ! A "chica" estava lá. Expliquei o ocorrido. Ela chama mais dois amigos e depois de muitas explicações entendi que deveria ter pego para a placa "Ruta 205 con peajo". Sigo, faço uma curva para a esquerda e quando buzino para agradecer a galera, vejo um deles com os braços levantados e punhos fechados parecia comemorar um gol ! Rs.

3.  Pane seca - A Ruta 225 que segue para o sul da Argentina é praticamente deserta. Eu e Rogério fomos negligentes com o combustível. Não consideramos que o DIESEL neste país é de pior qualidade e assim o consumo aumenta. Entre as cidades de Bahia Blanca  e Rio Colorado quase ficamos sem combustível. Chegamos a um posto com aproximadamente 3 litros no tanque ! (A capacidade total do reservatório de diesel da Land Rover Defender 90 é de 50 litros).

4. HAMBRE (fome) - Assumi a direção em Rio Colorado e o objetivo era Neuquén ! Mais de 500Km. Chegamos depois da meia noite. Ao todo foram mais de 14 horas na estrada de Buenos Aires até alí.  Famintos é pouco para descrever a situação. O atendente do hotel  nos disse que tudo estava fechado. Eu saí e por milagre encontrei um ambulante que me vendeu dois cachorros quentes, dois refrigerantes e duas águas. SALVEI a noite e fomos dormir às duas da madrugada. 

DIA 8 -  Rumo a Bariloche -Saímos às 10 horas. Optamos por passar pela cidade de Zapala depois que um casal de gaúchos, no café, nos contou ser o caminho mais bonito. Realmente deslumbrante. Uma paisagem pedregosa, pouca vegetação, estrada sinuosa (Lembrou a Bolívia e Peru). Eu buscava no relevo pontos para decolagem com o parapente e encontrei alguns. Mas não paramos. A região é repleta de lagos, maravilhoso. Na chegada a Bariloche, pausa para fotos e uma romaria pelas pousadas a fim de encontrarmos  algo que nos atendesse. Encontramos uma cabana toda equipada por 250 pesos. Cozinha, sala com sofá-cama, quarto de casal, banheiro pequeno mas digno. Rogério ficou com o quarto de casal. Tinha TV e o cara curte dormir com o aparelho ligado... Rs. Compras para o café da manhã, pois no dia seguinte começa a diversão !

Arredores de Bariloche - "Pouso" para fotos !


 Roteirizando Bariloche - Com o guia em mãos traçamos um roteiro

1. Circuito chico (Dia 9) - Circulamos pelo lago Nahuel Huapi. No Puerto Panuello descobrimos que para os passeios de barco só há duas opções. O preço é caro e uma turistada gigante. Desistimos. Paramos para fazer algumas trilhas no Parque Municipal Llao Llao. Floresta densa, lagos, montanhas e picos nevados. Retomamos a estrada e seguimos para o Cerro Campanário.

De volta à cabana, banho e depois rolé pela cidade. Truta com amêndoas no jantar. Em uma agência de viagens agendamos um rafting. Enquanto finalizávamos a compra de alguns passeios, duas turistas argentinas fazem uma pergunta e mudam nossos planos. Vocês foram à base do  Cerro Tronador ?  Pedi detalhes e fiquei fascinado com o que elas descreveram. O próprio vendedor foi bastante honesto e disse que era uma ótima sugestão e que ele não podia nos atender. Agradecemos a todos e ficou assim : um dia para a  Base do Tronador, no outro dia descida de Rafting !  Fica aqui uma lição : a viagem que eu gosto de  fazer é 50% programação e 50% improviso. Pela segunda vez, pessoas que conhecemos nos apontam destinos memoráveis. O casal de gaúchos e as turistas argentinas. E virão outros...

2. Cerro Tronador  (dia 10) - Até então a melhor aventura em Bariloche ! Um parque sensacional, 50Km de estrada de terra até a base do Cerro. Uma visão privilegiada do glaciar e o melhor : eu e Rogério ignoramos um aviso de "no passar", em uma trilha para a "garganta do diabo". Valeu demais ! Havia uma família à nossa frente que também ignorou a placa. Por uma trilha cada vez mais acidentada chegamos a um paredão. Ouvíamos o som estrondoso de uma cachoeira espetacular. Eu, Rogério, o pai e dois adolescentes paramos. A trilha terminava alí, mas devia existir uma maneira de contornar o paredão. Investiguei à direita e nada. À esquerda uma rampa íngreme parecia ser o único acesso ao topo. Deixei minha mochila e disse ao Rogério que tentaria por alí. Foi fácil e logo estava no topo do paredão. Alguns metros acima, em uma espécie de campo rupestre me aproximei de um bloco de gelo. Mais alguns passos e estava diante da imagem mais impressionante da viagem até o momento. O fim daquela colossal cachoeira era um buraco com um grande bloco de gelo pronto para desmoronar em um poço de águas brancas. Imaginei o espetáculo que seria ver tudo aquilo vindo abaixo. Fiz dois pequenos filmes.Vale destacar que ao escalar a rampa e verificar que era seguro fui chamar o Rogério. Para minha surpresa ele já estava subindo com minha mochila nas costas. O cara ganhou muitos pontos ! Parceria é tudo ! Naquela noite, truta com amêndoas para variar um pouco. Rs. Assista ao vídeo


Mirante para o Glaciar
3 - RAFTING (dia 11) - Para nossa sorte e felicidade foi um dia de céu aberto, azul e muito sol, o que não significa calor ! Na noite anterior minha garganta deu sinal de irritação e pela manhã a dor já estava presente. O passeio foi sensacional ! Além da beleza do rio, o fato do Rogério ter topado o desafio de remar em um bote inflável, descendo corredeiras,  foi bem legal ! O cara superou o medo. A água estava congelante e não arrisquei me jogar. Foram cerca de 4 horas de atividade com pausa para almoço às margens do rio Manso. Assista ao vídeo

Pausa para o almoço. Frutas, saduíches e suco.
DIA 12  Destino : CHILE ! - Rogério assumiu a bússola e indicou a direção. Mandou bem demais. Atravessamos a fronteira. O objetivo era cruzar o país na direção oeste até o Oceano Pacífico.


Consultei o guia e identifiquei uma cidade que me pareceu bastante interessante para o pernoite. Frutillar foi a cereja do bolo daquele dia ! Rs. Meu parceiro de viagem pede para que eu negocie um preço barato. Saí do carro e percorri vários quarteirões tentando obter o melhor valor para a hsopedagem. Sempre que eu dizia quanto consegui, ouvia : tá caro ! A cada "tá caro" a paciência foi diminuindo. Enfim, mais um daqueles golpes de sorte, chegamos em uma espécie de propriedade rural, às margens de um lago com  vista para o vulcão Osorno. (ESPETACULAR). O cara ficou no carro e lá vou eu para mais uma negociação. A sede da fazenda tinha um mobiliário que nos fazia viajar no tempo. Décadas de 40/50. Tudo em perfeito estado de conservação. Família alemã, fotos espalhadas pelas paredes e sobre um belíssimo piano. Eu expliquei à recepcionista que seria apenas por uma noite, que poderia ser um quarto bem simples para duas pessoas. Ela me levou a um conjunto de apartamento do lado de fora da sede. Abriu a porta e pediu que eu examinasse. Andei até a janela e quando avistei o imponente vulção, à margem do lago e uma cama confortável e estrategicamente colocada diante da janela, respondi que estava ótimo ! Corri até o carro, descrevi tudo e disse o preço. Você sabe o que eu ouvi ?  "Tá caro !". Aí ele arremata - "Vamos continuar pesquisando ?" Nessa hora eu devo ter feito uma cara de poucos amigos e mandei : POR MIM NÃO ! Ele entendeu o recado, pegou as malas e quando entrou no quarto entendeu que o preço era JUSTO. No dia seguinte, depois do café da manhã, Rogério ainda comentou : porra ! Que sorte a nossa !

Vista da minha janela em Frutillar.
DIA 13 - Arquipélago de Chiloe - A travessia de balsa para as ilhas é um espetáculo à parte. Avistei leões marinhos ! Conhecemos uma das 3 maiores cidades do arquipélago : ANCUD. Visitamos uma pinguineira, mas para avistar os pinguins era necessário atravessar de barco e circundar três ilhotas. Fazia muito frio e também ventava demais. Conversei com turistas que foram até lá e disseram não valer a pena, já que haviam poucos animais. De Ancud rumamos para CASTRO. Arrisquei descer uma falésia com a Land Rover. Prometi à HARPIA que ela poderia molhar os pneus no Pacífico. Divida paga e muitos metros transitando pela areia firme da praia descobrimos que não havia como retornar à estrada. Maré subindo, perrengue, até que avistamos pescadores. Os caras nos indicaram uma saída ! Você pode até me achar um louco, mas curto passar por situações assim ! Adrenalina vicia.

Rogério após batismo da Hapia em águas do Pacífico !

Em Castro pernoitamos em um hotel com o melhor banho de toda a viagem. Banheira para imersão, água bem quente para relaxar, fazer a barba e até a cabeça ! Noite de descanso com direito a salmão ! Afinal a cidade é conhecida por sua tradição em pratos desta especialidade. Senti muita febre, aliás desde Bariloche ela vai e volta. Paracetamol à mão e "boralá" que tem muito chão pela frente !

Palafitas. Comunidade tradicional de pescadores em Castro
DIA 14 - PUERTO VARAS - Depois que voltamos para o continente, quilômetros de distância do arquipélago, dei falta do meu anel e meu relógio ! Pendurei os dois na luminária sobre minha cama. A febre e a pressa em arrumar as malas me distrairam. Rogério pergunta se quero voltar. Eu digo que não. Lamentei pelo anel. Comprei em Cusco no Peru. Era de prata trabalhada com os desenhos da linha de Nascar. Uma pena. Estava esquecendo de contar um episódio curioso que ocorreu quando retornávamos da praia em que a HARPIA conheceu as águas do Pacífico. Nos preparativos para a viagem pesquisei sobre os ítens obrigatórios para transitar com o jipe em território argentino e chileno. Era obrigatório possuir um CAMBÃO. Comprei. E não é que foi necessário ? Passamos por um veículo que estava atolado e imediatamente me dispus a ajudar. Conecta daqui, dali e pronto. Puxamos o carro na maior facilidade ! Nossa boa ação daquele dia. Rs.

Segundo o guia Puerto Varas é uma das cidades mais charmosas da região dos lagos andinos. Confirmamos a informação. Chegamos no início da tarde, dia indo e muitas fotos na orla do lago Llanquihue. Decidi que devíamos conhecer o Parque Nacional que abriga o Vulcão Osorno. Partimos. No trajeto alucinante não poupei o dedo e fotografei muito, além de fazer alguns vídeos. Subimos direto para conhecer a base do vulcão. Eram 3 da tarde. Uma estação de esqui, restaurante, loja de roupas e acessórios para a prática de esportes na neve. Comprei um capacete. A ideía era estrea-lo em um vôo de paraglider com decolagem do alto do vulcão ou do mais alto possível em sua encosta. Conversei com um dos funcionários, Pablito. Perguntei sobre a prática de voo-livre alí na estação e ele me disse que já haviam voado a partir do segundo trecho de teleférico. Complementou dizendo que eu deveria pedir autorização ao diretor da estação. Agradeci e imeditamente procurei o responsável. Entre olhares de surpresa, desconfiança e curiosidade, recebi um "SI" para decolar no dia seguinte. Um garçon que ouvia toda a estoria apontou uma de suas amigas e pediu que eu a levasse para voar. Concordei. Ela sumiu. De volta à portaria do parque, hora de procurar acomodação. Para variar, dou uma sorte incrível nestas horas. De cara encontro a melhor e mais barata. Rogério pede para tentar outros lugares... Como eu estava em estado de graça diante da possibilidade de voar no dia seguinte, não discuti, fui a vários outros hotéis e pousadas e por fim voltamos para o primeiro que indiquei ! O melhor pernoite da viagem ! Cabana maravilhosa, vista idem. Antes do jantar, gravo um vídeo do Rogério se jogando nas águas gélidas do lago Llanquihue ! Hilário.

O lago Llanquihue e ao fundo o vulcão Osorno
De volta do jantar. Noite estrelada e muito escura. Mostrei ao meu parceiro as constelações que estavam visíveis no céu. O cara pirou ao conhecer a VIA LÁCTEA e ESCORPIÃO. Praticamente passei anoite em claro ! Ansiedade com o dia seguinte. No dia seguinte fomos surpreendidos com o café sendo servido no quarto ! Delicioso. Um ótimo início de dia. Dia que ficará marcado na memória : o dia em que decolei do Vulcão Osorno !

Praia particular diante da cabana
Eu, colocando em dia o diário Nas Asas da Harpia (Janela da cabana)

DIA 15 - 09/01/11 - Se eu voo você vem comigo !  - O dia estava perfeito, ainda mais bonito que o anterior. Enquanto subíamos, minha unica preocupação era que os administradores desistissem da idéia de permitir que eu decolasse. Mas foi exatamente o contrário ! Juanito me reconheceu e gritou : PARAPENTE ! kkkk. Me aproximei e brinquei ao dizer que assim que pronunciei o nome dele na administração todos disseram que estava liberado ! Ele sorriu. Comprei o ingresso para subir os dois trechos de teleférico. Todos me perguntavam quanto tempo eu demoraria para decolar. Estimei uma hora, pois só para chegar ao local indicado por eles eu gastaria metade desse tempo. Expliquei também que uma coisa é chegar lá, outra é a condição ser favorável à decolagem. Eu teria que me sentir completamente seguro apóa avaliar a direção do vento, sua intensidade e local para pouso. Novamente o garçom apontou uma das garçonetes para voar comigo. Eu disse : queres volar ? Si porque no ? Ela respondeu. Topou e foi sério. Então expliquei que não estava habilitado para "vuelo doble" ! Preciso investir nisso !

Subir com aquele mochila gigantesca exigiu muita colaboração do pessoal que controla o embarque e desembarque no teleférico. Juanito me diz que eu poderia fazer quantos voos quisesse sem pagar novamente. Agradeci e disse a ele que um bom vôo já era suficiente ! Agora relendo minhas anotações no diário e assistindo ao vídeo, confirmo a tese de que o "Livro" sempre é melhor do que o "Filme" ! Rs. Portanto vou continuar fiel às minhas anotações.

No trajeto para a decolagem a boca já está seca !
O visual é único ! Deslumbrante ! Passei por um longo trecho de gelo que teima em não derreter. Sol forte, céu azul e boca seca. O funcionário da última parada aponta o local da decolagem. Tenho que caminhar uns 400 metros.  A trilha não estava bem definida. Uma descida íngreme e meu tênis só atrapalha o deslocamento na neve. Parapente nas costas, piso escorregadio, combinação perfeita para um tombo e um rolamento de vários metros. Inventei uma técnica para caminhar. Cravava os calcanhares no gelo e me apoiava com o corpo levemente  inclinado para trás. Funcionou. Cheguei à base do morro. Agora o desafio era subir por um terreno de pedras soltas e bem pequenas. Vale destacar que fui escoltado por um batalhão de moscas esverdeadas e gigantes ! Zumbindo e pousando em mim e no parapente. Por sorte não picavam. Alcancei o topo do morro depois de escorregar várias vezes. Hora de avaliar a condição do vento e não podia ser pior : caudal ! O que significa soprar nas costas da montanha e para decolarmos o vento deve estar de frente ! Faço contato por rádio com o Rogério e digo que agora é uma questão de paciência. Meu passatempo foi matar as moscas com um jornal estrategicamente guardado na mochila do parapente. Minutos depois de muita porradaria e quase extinção das moscas, eu estava sozinho e a condição começou a melhorar. Uma brisa leve já batia no meu rosto vinda da direção que escolhi para decolar. Abri o equipamento e em novo contato com Rogério perguntei se já era possível avistar minha vela na montanha. Ele confirmou. Eu estava tomado por uma serenidade incomum. Não é raro nestes instantes o piloto ficar com o coração acelerado e a boca seca. Minha tranquilidade vinha do fato da decolagem ser tecnicamente fácil. Sabia que o vôo propriamente dito não seria tanto assim. O vento passava rotorizado ( turbulento). Ainda era cedo, por volta de 10 da manhã. Quanto mais eu demorasse, mais a condição tornaria-se imprópria devido a turbulência na atmosfera. Tirei a blusa de frio, coloquei o macacão de voo, me equipei com a selete (cadeirinha), conectei minha vela e iniciei a gravação de um vídeo. Minutos mais tarde, bate uma brisa  quente e generosa, aproveito para puxar a vela e inciar o voo !  O apoio de pés desaparece do meu campo de visão e sou obrigado a usar o acelerador para ajudar a me posicionar na selete ( Os pilotos que assitirem entenderão.... leigos não ! Rs). Passado o perrengue, curti o visual e que visual ! Já estava previsto que o voo seria de curta duração. Poucas térmicas, perda de altitude e dentre várias possibilidades de pouso escolhi o estacionamento da estação de esqui. Fiz curvas mais fortes para perder altura rapidamente e ganhar velocidade na reta final. Enfim, diante de espectadores incrédulos e admirados pousei e ouvi até algumas palmas !!!! Mais que um voo contemplativo, esse era o desafio de, sem outros pilotos como referência, ser capaz de avaliar as condições de decolagem, voo e pouso em um local desconhecido e inusitado, afinal foi um VOO SOBRE O VULCÃO OSORNO (video) !

Depois do voo, eu em completo estado de euforia, mais feliz que pintinho no fubá, entrei na HARPIA e ao volante, Rogério toca para PUCON, contornado o lago pela direita. Passamos pela bem estruturada VILLARRICA, cujo maior atrativo é um vulcão ativo que dá nome à cidade. Já em Pucon, percebe-se pelos carros e residências à beira do lago que trata-se de região frequentada pela nata da sociedade Chilena. Era domingo, praias lotadas (lago) e eu disse ao Rogério que aquilo alí era uma espécie de Búzios ou Maresias chilena. Confirmei minha suspeita quando desci para buscar um hotel. Póximo da orla pediram 60.000,00 pesos (cerca de R$215,00) . Para se ter uma idéia, a cabana que ficamos à beira do lago, com vista para o Osorno e café da manhã servido no quarto custou 38.000,00 pesos ! (R$136,00). Decidimos nos afastar da orla e a estratégia foi bem sucedida. Pagamos 32.000,00 pesos (R$114,00) . Hospedagem em uma casa com vários quartos de uma senhora bem sistemática, porém muito simpática !  Estávamos exaustos. Rogério, o menino do controle remoto, descobre a Globo Internacional e Faustão encheu nossa noite de entretenimento de altíssimo nível ! Detalhe : me arrependi profundamente de não ter buscado minhas últimas forças para dar um rolé por Pucon. Teria valido a pena. Mandei mal.

DIA 16 - Vulcão VILLARRICA -Ótimo "desayuno" (café da manhã) e partimos para o parque do vulcão. Comparado ao Osorno deixou a desejar. Toda a estrutura de teleféricos estava desmontada, pois apenas no inverno há visitação que justifique o funcionamento. A aventura ficou interessante quando notamos ser possível chegar ao gelo na base do vulcão com a Land Rover. Assim o fizemos !

A HARPIA, depois de tocar com os pneus as águas do Pacífico, experimenta o gelo do vulcão VILLARRICA
 Antes de subirmos, ainda na cidade, constatei que todas as agências de turismo tinham em sua programação a subida ao pico do Villarrica. Adoraria ter feito isto, mas a agenda estava lotada e teríamos que esperar pelo menos 4 dias para entrarmos em um grupo. Após o passeio de jipe dentro do parque rumamos para a capital do chile, Santiago. Não eram muitos quilômetros, cerca de 700, mas saímos tarde (13 horas) e por essa razão, só lá pelas 23:30 horas chegamos à região metropolitana da cidade. Eu estava na direção e procurei evitar circular pelo centro. Procurei a todo momento identificar hotéis à margem da Ruta 5 nos arredores de Santiago e nada ! Paramos em um posto de abastecimento e me indicaram um motel. Fomos até lá e não havia vaga. Perguntei sobre uma cidade próximo dali chamada Lampa, era nosso plano B, a atendente disse que sim, era uma idéia ! Chegando lá descobrimos se tratar de uma comunidade rural. Nenhuma hospedagem. Nessa altura já passava de 1 hora da manhã. Foi então que eu disse ao Rogério : Vamos dirigir toda a madrugada ? Aproveitar que a estrada está vazia e seguirmos em frente o máximo que pudermos ? Ele topou ! Cabe ressaltar aqui que não planejávamos passar algum tempo em Santiago. Nosso destino era o Parque Provincial Aconcágua (Argentina) cravado na cordilheira dos Andes. Por volta das 3 da manhã estávamos na complicada aduana entre o Chile e a Argentina. Boa parte das 2 horas que enfrentei na estrada foram de subida. Uma escuridão completa e o Jipe serpenteando um longo aclive. A cada novo patamar da estrada, era possível observar os faróis lá embaixo, de caminhões que faziam o mesmo trajeto. Tive a certeza que estava perdendo, em função da falta de luz, um dos visuais mais incríveis da viagem. Estávamos em plena cordilheira dos Andes, o frio aumentando na mesma proporção em que atingíamos a parte mais alta daquele paredão rochoso.

DIA 17 - Parque Provincial ACONCÁGUA - Apesar de ser madrugada a aduana estava cheia. Finalizada a burocracia de papéis e documentação, procuramos hospedagem. Alguns quilômetros após a aduana, em um lugar iluminado à beira da estrada, paramos para buscar informação no guia. Identifiquei o nome de um hotel que era referência para os visitantes do Aconcágua em função de sua proximidade com a entrada do parque. Ao manobrarmos o carro para irmos em busca do hotel, os faróis iluminam um placa : Hotel Uspallata. Rimos muito. Estávamos estacionados ao lado do nosso destino. Depois de muitas risadas nos calamos. A porta de entrada do hotel estava trancada. Eram 4 da manhã. Decidimos dormir dentro do jipe. Nos acomodamos e poucos minutos depois a sensação de congelamento atingia os ossos ! Foi então que me lembrei dos sleep bags que trouxe caso acampássemos. Saquei-os da mochila, entreguei o de casal para o Rogério e fiquei com o outro. Sensacional ! Sono razoável de 3 horas e o sol já iluminava o topo da cordilheira. Fiquei extasiado com aquela vista e acordei meu parceiro. Olha que do cara# ! Ele não respondeu. Abandonei o jipe e entrei no hotel em busca de quarto. Aí vem a primeira negativa desde que colocamos os pés e pneus na estrada. De volta ao carro e frustrado, entendi que a única opção era seguir em frente para Mendoza (180Km). Na descida observo outras possíveis hospedagens. Circulo por elas e não encontro uma alma viva sequer para me atender. Na última delas, surge um senhor que me dá as seguintes informações :

* Preço - $380,00 pesos em dinheiro ! $530,00 se for pagamento com cartão de crédito.
* A entrada do parque provincial Aconcágua fica a poucos km da aduana e não ao final da descida no caminho para Mendoza, como achávamos.

Esta última informação foi fundamental. Já havíamos passado da entrada. Perguntei se ele tinha um mapa do parque. Tinha. Um bem técnico, topográfico, para alpinistas que pretendem conhecer em detalhes as trilhas e acessos ao pico. Perguntei sobre as atividades. Ele responde que um pequeno trekking de duas horas já permite conhecer as principais atrações. Conhecer alguns lagos, vislumbrar a cordilheira dos Andes e o pico do Aconcágua. Perfeito ! Voltei ao jipe, expliquei tudo ao Rogério e tomei o caminho de volta, direção ao Chile. Não havia uma placa sequer indicando a entrada do parque e portanto foi um trabalho enorme identificarmos a portaria do mesmo, mas valeu ! Já eram 8 horas da manhã, exatamente o horário de abertura do parque segundo uma placa na sede do mesmo. Não havia ninguém e esperamos uns 30 minutos até aparecer um funcionário. Ele diz que podemos entrar e que havia um estacionamento a cerca de 800 metros dali. Não cobrou, nem por nossas entradas, nem pelo estacionamento ! Melhor impossível ! Entramos, a luz estava perfeita para fotografia. Assista ao vídeo : Aconcágua . Éramos os únicos na trilha. O que parecia um problema : fazer a passagem da aduana às 3 da madrugada, não encontrar hospedagem e dormir no carro, foram fatos fundamentais para estarmos agora desfrutando do Aconcágua no início da manhã ! Pensei no tempo que gastaríamos até aqui caso o pernoite fosse em Santiago. Estrada lotada de caminhões, a aduana impraticável e por aí vai. É por isso que digo : viajar é planejamento, mas deixe 50 % a cargo do destino. Ele nos proporciona os momentos mais especiais !

Cerro Aconcágua com seus 6.962 metros. O ponto mais alto das Américas
  E aí ? Curtiu os vídeos e fotos ? Indescritível. Se um dia resolver ir conhecer pode me chamar. Volto fácil para aquele lugar. Agora o destino é Mendoza. A estrada é um capítulo à parte. A cordilheira nos escolta todo o tempo. Um rio também nos acompanha. suas corredeiras, aquele dia azul, estrada praticamente vazia. O som dos pneus no asfalto. Estou tomado pela emoção de contemplar a paisagem e me sentir um privilegiado. Chegamos às 15:30. Hotel barato, bom banho, almoço digno e fomos aproveitar das atrações que a cidade oferece. 

DIA 18 - Retorno a Buenos Aires - Começamos o dia em uma casa de câmbio. Ficamos livres dos pesos Chilenos e compramos a moeda Uruguaia. De Mendoza a Buenos Aires percorreríamos mais de 1.000 Km de oeste para leste. Já estávamos habituados a passar horas ao volante. Por volta das 3 da tarde, sol forte, notei um barulho vindo do motor da Harpia. Baixei o som e confirmei. Paramos o jipe e lá estava. Som estridente vindo da direção da bomba d'agua  e alternador. Não encontramos nada solto. Decidimos continuar. O barulho desapareceu. Minutos depois o Rogério pára o jipe rapidamente ao constatar um rápido aumento da temperatura do motor. Tratava-se da correia do alternador. Estava solta. Os conhecimentos de mecânica do meu parceiro de viagem foram colocados à prova. O cara desmontou o alternador e descobriu o problema. Uma polia desgastada. Coube a mim sinalizar a rodovia e tentar pedir ajuda. Passamos pelo menos 2 horas ali sem que ninguém parasse. Foi quando uma sequência de pequenos milagres começaram a acontecer. Passa um caminhão reboque. O motorista nos leva direto para a casa de um amigo especialista em alternadores. O mecânico faz contato com um fornecedor que tem a peça que nos interessava. Por volta da meia-noite tudo resolvido ! O mais interesante foi que nem o motorista, nem o mecânico aproveitaram da situação para nos arrancar dinheiro. Preço justo ! Enquanto tentávamos sair daquele bairro labiríntico, notamos que a temperatura voltou a subir. Falta de água no radiador. Onde consegui-la aquela hora ? Por sorte um caminhoneiro me atendeu. Estávamos na porta de sua casa e sua esposa encheu duas garrafas pet com água e me ofereceu. A filha de uns 3 anos pegou minha lanterna e brincou de iluminar seu rosto. Por alguns instantes esqueci do perrengue que passávamos ! Agradeci e fomos embora. Mais alguns metros e a temperatura volta a subir. Não é possível cara ! Reclamei. Novamente um morador nos ajuda. Quase uma hora da madrugada e ele e parte dafamília estavam tranquilamente, na rua, conversando. Ao ver o boné que o Rogério estava usando, com a logomarca do DAKAR, pensou que éramos pilotos particpando da competição ! Outras despedida e pé na estrada. Decidimos varar a noite na estrada e mais uma vez eu estava na direção. O cara adormeceu. Destino Buenos Aires. Eu e meus pensamentos, parceria por mais uma madrugada.

DIA 19 - Travessia para Montevideo - 6 horas depois e cochilando muito (perigo), eu entrava na região  metropolitana de Buenos Aires. Disse ao Rogério que estava difícil suportar o sono e que era fundamental que ele tentasse me manter acordado, conversando comigo, caso contrário teríamos que estacionar por ali e dormir um pouco. O cara disparou a falar e tudo se resolveu. Fomos direto para o porto onde embarcaríamos para o Uruguai. Uma certa confusão aconteceu para comprarmos as passagens. Os tickets custam bem caro. Nossas passagens mais o embarque do jipe ficou em $1300,00 pesos. Mas compensou. Um navio com muito conforto, BUQUEBUS. A travessia é muito bonita, pelo rio da Prata, e optamos por ir direto a Montevideo. Existe outra opção, mais barata, para Colonia. Depois teríamos que pegar estrada até a capital.

3 horas de travessia entre Buenos Aires e Montevideo
A bordo do navio. Merecido descanso para a Harpia
Já em território Uruguaio, optamos pela ruta 9. Cerca de 360 Km pela costa atlântica do país. No mais tardar estaríamos na divisa com o Brasil por volta das 19:00 horas. Foi então que descobrimos a Búzios dos uruguaios : Punta Del Este. Praias lindas e  muita agitação. Piramos com tudo o que vimos. As estradas pelas quais transitamos são impecáveis. Depois de rodar por Brasil, Argentina e Chile, não é exagero dizer que as uruguaias são as melhores.

Finalmente a divisa !
 Dia 20 - CHUÍ - A célebre frase "DO OIAPOQUE AO CHUÍ" sempre povoou meus sonhos de viagem. Eu planejava, quando criança, atravessar todo o país de norte a sul e sabia que o Chuí era o extremo do Brasil. Pois bem, estava lá e quer saber ? O extremo sul do nosso país é um.... Pode fazer a analogia com nosso sistema digestivo, ou melhor, com o final dele ! Rs. Uma zona de livre comércio com lojas abarrotadas de artigos "made in Paraguai". Eu amargava mais um daqueles quadros de febre que me acompanham desde Bariloche. Enquanto Rogério saiu às compras, fiquei no hotel me recuperando. Quando ele retornou, combinei nossos próximos passos : conhecer Torres no litoral gaúcho, fazer um voozinho de falésia e passar alguns dias em Floripa antes de retornarmos a BH. Ele curtiu e eu mais ainda ! Bora ! Deixamos o Chuí por volta das 13 horas. Seriam 500Km até Torres. BR 101 ! Rodamos um pequeno trecho e paramos para aguardar uma balsa. Feita a travessia, pegamos uma parte horrorosa da estrada com muitos buracos. Por volta das 22 horas, estou na direção e em um trecho muito escuro da 101 noto placas de "homens trabalhando na pista". Naquela hora certamente não haveria nenhum. Estou a 100Km/h e diante dos faróis altos do jipe surgem 2 cones de sinalização fechando minha pista ! Uso os freios e percebo que a Land Rover não vai parar. Alivio o pé do freio e atropelo os cones. Adiante a pista tem um degrau alto e o piso é de britas molhadas com pixe (derivado de petróleo que serve de base para asfalto). O carro sai de traseira e entra na pista da contramão com as duas rodas do lado esquerdo encaixadas em uma vala que percorre a lateral da estrada. Eu controlo o jipe e transito alguns metros totalmente inclinado para a esquerda quase capotando o veículo. Retorno à pista, mas ainda na contramão, já que ao meu lado era impossível transitar com aquelas pedras soltas e escorregadias com o pixe. Já é possivel observar faróis vindos em minha direção. 3 veículos, sendo o primeiro deles um caminhão. Aguardei até que ele ficasse bem próximo e só então mudei de pista e controlei o jipe que escorregava muito. RESUMO : Até então eu havia rodado mais de 10.000Km. Brasil, Argentina, Chile e Uruguai. Me deparei com obras nas estradas argentinas e chilenas e a sinalização era perfeita ! Em caso de trânsito em pista única, um homem sinalizava se eu poderia ou não seguir. Acreditem, era essa a situação na BR 101. Escuridão, pista única e ninguém para orientar o trânsito. Quase me envolvo em um grave acidente. Ao perder o controle do jipe na descida do degrau poderia ter batido de frente com o caminhão que vinha em sentido contrário, mas que por sorte estava a uns 100 metros de distância ! Perguntei ao Rogério se ele estava bem. Ele respondeu que sim e seguimos viagem. Passado o susto, a felicidade de chegarmos ao nosso destino e encontrarmos hospedagem boa e por bom preço. Minha espectativa para a manhã seguinte é de VOAR !

DIA 21 - VOO de FALÉSIA - Após o café da manhã, fomos para o Morro do Farol. A cidade estava lotada, estamos no dia 15 de janeiro de 2011. Férias escolares. Enfim, topo do morro e já posso ouvir alguns paramotores decolando (parapente com hélice ). O visual é incrível apesar do tempo encoberto. Depois de uma conversa decontraída e amistosa com pilotos locais, preparei meu parapente para tentar um voozinho relax. Assista ao vídeo. Depois do voo me despedi da galera e tocamos para Florianópolis. Pelas estradas do meu país gastamos 6 horas para percorrer 300Km. Engarrafamentos, obras, retenções e etc. Cardápio completo. Chegando em floripa outra constatação : não há vagas ! Horas em busca de um hotel, lá pelas 8 da noite conseguimos hospedagem na praia dos Ingleses R$240,00 o pernoite.  Pagamos calados. Banho, pizza e cama!

DIA 22 - FLORIPA - Nossos planos para hoje são :

*Acordar cedo
* Caminhar pela praia
*Passear de jipe pela ilha visitando os pontos mais badalados
*Voar na praia Mole, local clássico para praticantes de voo livre

* Voltar ao hotel, tomar um banho e pegar a estrada para Curitiba

Do nosso planejamento 5 estrelas (*), realizamos a primeira. Daí em diante foi olhar pela janela e desistir de todas as outras. Chuva da grossa !

Nas asas da Harpia tudo fica mais fácil ! Encaramos a estrada de Florianópolis a Pouso Alegre no sul de minas. Foram 898Km em aproximadamente 12 horas de viagem. Muita chuva, buracos, acidentes, alagamentos de pistas, quedas de barreira e todos as demais dificuldades inerentes às estradas brasileiras nesta época do ano na região sudeste. Uma combinação perigosa de férias e chuva !
Em Pouso Alegre pernoitamos em um hotel de beira de estrada, mas com acomodação e café da manhã muito bons.

DIA 23 - Chegada em BH, fim da expedição !  Depois de 12.000Km rodados, não darei os números da viagem. Aquela coisa matemática demais como litros de diesel consumidos, estradas que passamos... etc. Acho muito bacana quando leio sobre expedições em que os caras anexam planilhas de gastos e coisas do gênero, mas isso é para profissionais ! Sou AMADOR ! Um cara que sonhou pegar o jipe e ir até o extremo sul da américa do sul (pausa dramáica) ! Como assim Alessandro ? Voce não foi a USHUAIA ! Pois é, mas a idéia inicial era esta. Convidei um colega de trabalho e aí a coisa mudou. O cara tinha que voltar para BH por volta do dia 20 de Janeiro, ou seja, não havia tanto tempo disponível. Porque eu não fui sozinho ? Porque era a primeira vez que eu encarava un desafio dessa magnitude. Ter alguém para compartilhar alegrias e perrengues é muito bom, mas concordo que não é indispensável ! Redesenhar o roteiro, atender às minhas demandas e às de meu parceiro foi um exercício de paciência, sabedoria e desapego. No final, ambos estávamos felizes com o que realizamos. AMADORES com um objetivo parcialmente planejado ! Que combinação curiosa não ? E foi sensacional ! Passado quase um ano que liguei o motor da LAND ROVER para VOAR para o SUL, sinto que foi necessário todo esse tempo para eu entender os resultados da jornada. Reler meu diário de bordo, relembrar os fatos, omitir outros (Rs), é como colocar os pés na estrada novamente ! Ahhhhhh não contei tudo ! Claro que não. O TEMPO foi o melhor filtro. Quase 365 dias se passaram e virei a página de alguns eventos ocorridos antes e durante esta viagem. Só as pessoas mais próximas sabem a que me refiro. Cito isto não com o objetivo de causar em vocês a curiosidade, mas para que saibam que quando viajamos assim, fazemos também uma viajem para dentro de nós. Percorremos lugares que não são tão hospitaleiros, tão bonitos ou agradáveis. Foram incríveis e necessárias, ambas as viagens !

Quero dizer a todos que me conhecem e que passaram a me conhecer um pouco a partir deste relato de viagem, que dar asas ao nosso sonho de conhecer lugares, tem como primeiro passo o DESEJO. E não temo em dizer que talvez seja o mais importante de todos. TEMPO e DINHEIRO é uma questão de planejamento e se forem pouco, SONHE um sonho realizável ! Não é preciso percorrer 8000Km para estar em uma montanha, contemplando rios e vales, ouvindo o silêncio ensurdecedor de tudo à sua volta. Para voar não basta ter asas é preciso ser livre e o exercício da liberdade está muito mais acessível do que a maioria das pessoas imagina !

VOA ! E me conta o que viu e sentiu.

Autorretrato em Puerto Varas - Chile
 Acesse também :

Álbum de fotos da expedição pela Argentina e Chile

Vídeo com imagens inéditas da expedição


"Happiness is only real when shared"






5 comentários:

  1. Valeu Tom ! Tudo leva a crer que no próximo post você será a "figurinha carimbada" Rs.

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  2. Amigo, em julho fomos de Buenos Aires para Bariloche pela Ruta 22. É linda, mas bem deserta e com longas retas (algumas até de 80 KM).

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  3. Bacana ! Assim quem resolver se aventurar como nós passa a ter duas sugestões. Buenos Aires a Bariloche pela Ruta 205 ou Ruta 22. Valeu !

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  4. Nossa ....digno de passar no canal off
    Graziele Januario

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